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O tempo de Alice e do Reverendo Carlos Lutwidge Dodgson

O tempo de Alice e do Reverendo Carlos Lutwidge Dodgson

É o mar!

«Um desenho da época mostra-nos um jovem limpa-chaminés sentado na extremidade de um cano de chaminé e segurando nas mãos enfarruscadas um livro em que está mergulhado. Imagem simbólica. Todo aquele que, na Grã-Bretanha desse tempo, sabe ler, absorve uma quantidade prodigiosa de matéria impressa: livros, revistas, magazines, hebdomadários, quotidianos» - A Vida Quotidiana em Inglaterra no Começo da Era Vitoriana (1837-1851), Jacques Chastenet.           Não obstante, (...)

A floresta muito cerrada e tenebrosa

Dante perdido na floresta escura. Gravura de Gustavo Doré.   «No meio do caminho em nossa vida, eu me encontrei por uma selva escura porque a direita via era perdida» (Canto I, tradução de Vasco Graça Moura).           Alice vai passar de um espaço pastoral, feito de leituras e jogos, para outro que lhe parece «o jardim mais maravilhoso que imaginar se pode». As dificuldades começam no átrio, onde chegou pelo corredor de várias portas trancadas, até reparar na pequena (...)

Já não era a Terra primordial

        As duas estavam sentadas na margem do rio em recanto idílico da natureza vegetal. A irmã lia um livro e o calor adormeceu Alice. Só no fim da história perceberemos que já sonhava quando passou diante dela, muito apressado, o coelho branco de colete e relógio de algibeira a falar sózinho. Levantou-se curiosa e viu-o entrar numa grande toca. Fez o mesmo caminho no que era um túnel, mas depois o brusco declive precipitou-a em queda livre.         Não se amedrontou (...)

Onde faísca o querer

        Alice no País das Maravilhas cativa o leitor e incita a releitura. Mais assombra por ser a primeira produção literária de fôlego de Dodgson e instantaneamente obter a aceitação pública, crescente até hoje, além de alvo de versões interpretativas de criadores e também de simples leitores.         A estrutura espectral do romance, habitante há muito do autor, é habilmente diluída com ajustes particulares do pensamento religioso e político, conjunto ao qual (...)

E depois consideremos ainda

        1. Mais alguma coisa sobre os capítulos IX e X. Recapitulemos: a Falsa Tartaruga, junto do rochedo de Gibraltar, no chão da Península Ibérica, interpreta quase de modo oracular um costume típico da capital portuguesa, ou seja, recita, canta e dança em estado plangente que lembra o fado. Estou disposto no entanto a aceitar que a dança, e só a dança - com o capítulo próprio "A Quadrilha da Lagosta" ou "A Contradança da Lagosta", conforme as traduções, e no original (...)

Uma tartaruga moça e bisonha

«A próxima paragem é Gibraltar... O rochedo é a imagem de um enorme leão, agachado entre o Atlântico e o Mediterrâneo, e ali guarda a passagem da sua amante britânica» - William Makepeace Thackeray, Notes of a Journey from Cornhill to Grand Cairo, 1846.                  Os capítulos IX e X, "A História da Falsa Tartaruga" e "A Quadrilha da Lagosta", são interligados, começando aquele na imposição da rainha para conduzir Alice ao sítio da Falsa Tartaruga e ouvir a (...)

O vento tudo leva, vozes, nuvens e folhas

[clicar]         «Já que as leis do fado querem que uma nação preponderante dite as leis às outras, seja a Inglaterra, porque domina pelo engenho e pelas riquezas» - D. Pedro V.         D. Maria II já reinava quando desembarcou em Gibraltar em 1828, vinda do Rio de Janeiro. As notícias aqui chegadas, no entanto, pediam prudência, pois (...)

As fartas ucharias do bosque

        Como bem verificou Jorge Luís Borges, os desenhos de John Tenniel são intrínsecos da obra, embora não entendemos quando afirma desagradarem a Dodgson. Este admirava o trabalho do artista na revista "Punch" e convidou-o a ilustrar o romance. A troca epistolar entre ambos sobre o tratamento de uma imagem fez Dodgson suprimir um episódio em Alice no Outro Lado do Espelho.         O manuscrito inicial, intitulado Alice's Adventures Under Ground, foi ilustrado pelo (...)